quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Mitos: Afinal a vida moderna não é pior

É fácil encontrar pessoas que suspiram de saudade sempre que falam do mundo há 40 anos. O custo de vida era mais barato: uma carcaça custava apenas 50 centavos, um quilo de açúcar não ia além dos 7 escudos e um automóvel rondava os 44 mil escudos. E a alimentação? Não havia pizza nem hambúrgueres e toda a gente sabia de que eram feitos os produtos. Já para não falar da saúde: as pessoas viviam até muito mais tarde e não se ouvia falar tanto de cancro.
Agora ouça uma coisa de que essas pessoas não vão gostar nem um bocadinho: isso é tudo mentira. A maioria dos alimentos está mais barata, os electrodomésticos deixaram de ser um luxo e vive-se mais do que antes e com mais qualidade – apesar dos reality shows.

As palavras complicadas inscritas nos rótulos dos alimentos pré-preparados referem-se a conservantes que evitam a sua deterioração. Há 40 anos a realidade era pior: ninguém fiscalizava o que os fabricantes colocavam dentro das latas de comida e havia maior risco de contaminação por bactérias. Hoje há uma entidade dedicada exclusivamente a verificar as regras de higiene e segurança alimentar: a ASAE. 
As pessoas só estão interessadas em saber as bisbilhotices das celebridades e até assistem a programas como 'A Casa dos Segredos'. É verdade, mas não é devido a um aumento da estupidez.
Em 1960, 30% dos portugueses não sabiam ler nem escrever. E em 2001 essa percentagem desceu para 9%. A frequência no ensino secundário subiu de 1,3% para 60% e o ensino obrigatório passou de quatro para nove anos.
Também nunca houve tantos licenciados. Os reality shows são um entretenimento de fácil digestão. Não confundir inteligência com cultura popular. 

O cancro é uma doença associada ao estilo de vida, mas uma das principais causas para o aumento do número de casos é a velhice: a grande maioria dos cancros manifesta-se depois dos 65 anos. Mais: a esperança de vida à nascença em Portugal tem vindo a aumentar – em 1970 era de 64 anos para os homens e de 71 para as mulheres; em 2008 aumentara em 10 anos, segundo o Instituto Nacional de Estatística. Esta é também a razão para a maior frequência de doenças como a de Alzheimer e a de Parkinson, que são provocadas pela degeneração do sistema nervoso central.
No fim dos anos 60, os bens essenciais valiam poucos escudos. Um quilo de açúcar custava 7, a mesma quantidade em café atingia os 12 escudos e por um litro de azeite pagava-se 14 escudos. O pão era ainda mais barato: 50 centavos.
Parece pouco, mas os preços destes produtos ainda baixaram mais nos últimos 40 anos. A carcaça custa hoje 13 cêntimos – exactamente o mesmo valor a que equivalem os 50 centavos. O azeite está ligeiramente mais barato: os 14 escudos valem hoje 3,80 euros, preço de uma garrafa de azeite de qualidade. Quanto ao açúcar, custa menos de metade do que na década de 60: os 7 escudos equivalem a 1,93 euros e um pacote não custa mais de 1 euro.
Com os electrodomésticos a diferença é maior ainda: um esquentador custava 4 mil escudos, cerca de 1.100 euros actuais, o que na altura representava o salário mensal de um técnico qualificado. Hoje compra-se um destes electrodomésticos por 300 euros.

A verdade é que só nos lembramos das melhores canções da juventude porque são essas que ainda pomos a tocar em casa e porque continuam a passar em rádios revivalistas. Mas havia muito lixo. Hoje, a quantidade de música produzida é muito maior. Qualquer pessoa pode fazer música e até editá-la: basta um programa de computador e uma ligação à Internet. As fontes também duplicaram. “Antes havia uma série de filtros, como as editoras discográficas, que agora estão praticamente na falência, e a rádio, que funcionava como primeira divulgadora e pela qual só passava a música mais susceptível de ser memorável”, afirma João Gobern, crítico de música.
Convém não esquecer que há uma tendência para criticar tudo o que é novo. Aconteceu com os Beatles. Quando apareceram, nos anos 60, um crítico do jornal The Daily Telegraph chegou a escrever que a banda “era algo que Hitler poderia achar útil”.

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